Written in Cocteau’s youth, Antigone represents an intention to update
the Classics where provocation is not entirely absent. Reacting against the formality
of performances within the framework of the Comédie Française, Cocteau
opts for a ‘poor’ text, reduced to its minimum. This controversial proposal raised
qustions in France on how best to update the Classics. Cocteau used his own personal
experience to deepen his relationship with classical texts. Greek theatre and
myth became incorporated into his own language.
A Antígona, da juventude de Cocteau, representa um programa de actualização
dos clássicos não isento de provocação. Reagindo contra as formais representações
da Comédie Française, Cocteau propõe um trabalho sobre o texto
dramático de modo a obter um texto ‘pobre’, reduzido ao nervo, no contexto final,
em cena, de um teatro total, em que o elemento musical e cénico (guarda-roupa)
apresentam igual peso no espectáculo. A polémica instalada com a representação
de Antígona teve a virtude de converter em questão do tempo, no rico e variado
panorama da França de início dos anos 20, ‘como actualizar os Clássicos’ – o que
viria a dar fruto, nos anos subsequentes, com propostas diversas de vários autores.
Também Cocteau, reflectindo sobre a sua própria experiência, passando por vivências-
limite, com a perda de Radiguet, o ópio, a proximidade e fascínio do ‘outro
lado do espelho’, do anjo da morte, parente dos anjos rilkeanos, aprofundou a sua
relação com os clássicos: o teatro grego e o mito passam a ser linguagem dessa sua
mundividência, num teatro original, onde se cruzam referências culturais várias,
a construir a grande metáfora dramática. Em La machine infernale, de inspiração
livre em Rei Édipo e tocada por Édipo em Colono, Édipo, cego, sai para o exílio, no
final da peça, acompanhado por duas vozes que se sobrepõem – a fantasmática,
de Jocasta, e a de Antígona, que só se faz ouvir neste final. Tudo se passa como se,
freudianamente, o ciclo de atracções incestuosas dos Labdácidas se perpetuasse.