Memories of a Catholic Girlhood (1957), de Mary McCarthy, é uma
autobiografia que se configura num espaço situado entre a norma
autobiográfica da verdade e a transgressão subjectiva – e confessada – da
ficção. O que a autobiógrafa, explicitamente preocupada com «other
people’s expectations of me», oferece aos leitores é, aparentemente, a
autobiografia que eles querem ler, um texto que diga a verdade sobre
Mary McCarthy. No entanto, são claros os sinais de aviso de que a «verdade»
do texto é feita de dúvidas, simulacros, máscaras e outras verdades. Texto
cuja génese e cuja forma apontam na direcção da imperfeição, as memórias
de Mary McCarthy inscrevem a fragmentação e a inconsistência do «eu»
numa lógica em que a incompletude da memória se transforma no factor
criativo que permite, que exige mesmo, a presença transgressora da
ficção