No presente texto, parto do filme de Woody Allen, Zelig (1983), para analisar um conjunto de questões colocadas por aquele filme e por outros que integram a filmografia do autor. Assim, os protocolos constitutivos da narrativa e os procedimentos de transgressão ficcional que eles envolvem ocuparão aqui um lugar de destaque, tendo em atenção o propósito daquele filme e certos géneros narrativos a que ele está associado: biografia, reportagem, documentário, etc. Articula-se com isto o problema da construção da personagem, num lugar indeciso em que ficcionalidade e não-ficcionalidade são objeto de insistente subversão paródica. Para além disso, estarão em equação efeitos cognitivos determinados pelo recurso à hibridização de géneros e às derivas
metalépticas que eles consentem, bem como pela lógica funcional e sociocultural que é própria das narrativas mediáticas.