Applied philosophy and idealism in Fichte's Doctrine of the Sate (1813)
Resumo
In this paper I analyze the meaning of the expression “applied
philosophy” in Fichte’s conferences of 1813, known as the Doctrine of
the State (1813) or Doctrine of the State or the relation between the original
State and the realm of reason. Precisely, I would like to indicate the
absolutely unusual sense that, from my point of view, this expression
acquires here, at least, if it is considered in the light of the Kantian
philosophical repertoire. Fichte's thesis seems to reverse a traditional
scheme of modern reason to hold that the idea of freedom must be
assumed as the element from which even “nature” can be thought of.
This reassignment, or radicalization of the "practical primacy", seems
to imply a complete change in the notion of "applied philosophy",
in the precise sense that "application" and philosophical idealism
become two sides of the same coin. In this regard, I test the following
hypothesis. The rhetoric of these conferences, it seems, refers to
the thesis that "idealism" – in the strict sense that Fichte intends to
give this term – should not be read as an additional philosophical
option: either one does philosophy and, therefore, this idealism is
assumed, or philosophy is not made at all. In this way, which does
not fail to unsettle the customary eyes of tradition, the "application"
of philosophy is a moral life [SW, IV, 389]; but a moral life which must
presuppose a strong notion of freedom which, in turn, can only be
assumed by such an idealism.
Neste trabalho analiso o sentido que a expressão “filosofia aplicada”
assume nas conferências que Fichte realiza em 1813, conhecidas como
Doutrina do Estado de 1813, ou ainda, Doutrina do Estado ou da relação
entre Estado originário e reino da razão. Mais exatamente, gostaria de
indicar o sentido, a meu ver, absolutamente inusitado que esta expressão
adquire aqui, pelo menos se considerado à luz do repertório filosófico
delineado pelo kantismo. A tese de Fichte parece inverter um
esquema tradicional da razão moderna para sustentar que a ideia de
liberdade deve ser assumida como o elemento a partir do qual inclusive
a “natureza” pode vir a ser pensada. Este remanejamento, ou
radicalização do “primado prático” parece implicar uma completa
alteração na noção de “filosofia aplicada”, no sentido preciso de que
“aplicação” e idealismo filosófico tornam-se faces de uma mesma
moeda. Em vista disso, neste ensaio é testada a seguinte hipótese.
A retórica destas Conferências, ao que tudo indica, remete à tese de que
o “idealismo” – e isso no sentido preciso que Fichte pretende dar a este
termo – não deve ser lido como uma opção filosófica a mais: ou se faz
filosofia e, portanto, se assume este idealismo, ou não se faz filosofia. Desta forma, o que não deixa de causar estranhamento aos olhos acostumados
à tradição, a “aplicação” da filosofia é uma vida moral [SW,
IV, 389]; mas uma vida moral que deve pressupor uma noção forte de
liberdade que, por sua vez, só pode ser assumida por tal idealismo.