Modern studies, generally still attached to the supposed opposition between
nómos and phýsis (or civilization-nature) as one of the main pillars of Western
thought, see ancient Cynicism as a movement which, in this pre-determined arrangement
of beings and human action, has chosen its side: Diogenes of Sinope’s thought
could be assumed as the proposition of a katà phýsin life, which takes the features
both of primitivism and of animalism (as seemingly witness the name of the “school”).
Ancient Cynicism would thus constitute, in the expression of Marcel Detienne, an
“anti-Promethean” current, grounded on the refusal of the civilizing fire. This paper
aims, very succinctly, to argue against or at least to put this interpretation in perspective,
based precisely on the examination of the way in which, according to ancient sources,
the cynic philosophers appropriated the myth of Prometheus.
Os estudos modernos, de um modo geral, ainda aparentemente apegados
à suposta oposição do par nómos-phýsis (ou, mais circunstancialmente, civilização-
-natureza) como um dos pilares ordenadores do pensamento ocidental, costumam
reconhecer no cinismo antigo um movimento que, nesse arranjo pré-determinado
dos seres e da própria ação humana, escolheu seu lado: o pensamento de Diógenes de
Sínope, com o qual o movimento cínico chega a se confundir, se resumiria na proposição
de uma vida katà phýsin, que reveste, conforme o caso, as feições do primitivismo e do
animalismo (de que o próprio nome da “escola” já seria um indício). O cinismo antigo
constituiria assim, conforme a expressão forjada por Marcel Detienne, uma corrente
“anti-prometeica”, fundada na recusa do fogo civilizador. O que se pretende aqui, de
modo muito sucinto, é contestar ou, ao menos, relativizar essa ideia, tomando-se por
base justamente um exame do modo pelo qual, segundo as fontes antigas, os filósofos
cínicos se apropriaram do mito de Prometeu.