Trajectories of the rediscovery of Ancient Scepticism in Modern Thought
Resumo
According to Richard Popkin, the rediscovery of ancient philosophy in
modern thought opened the way to a new form of scepticism which he considers
characteristic of modernity, sceptical fideism. This has been contested by a number of
historians of philosophy. I turn to a neglected author, the humanist Guillaume Budé,
who in his later work criticized the humanistic revival of the Classics as a threat to
Christianity. Budé refers to the transition from Hellenism to Christian thought in
Late Antiquity as importing philosophical questions into religious thought and thus
provoking a conflict of doctrines inherited from philosophy. This argument allows
us to show a parallel between early Christian thought and the religious conflicts in
the sixteenth century, as well as to consider the revival of Patristic thought in the
Renaissance as an important source for the knowledge of Classical philosophers,
among them Pyrrhonians and Academics.
Richard Popkin mostrou que a retomada do ceticismo antigo no período
moderno levou à formulação de um ceticismo moderno, distinto do ceticismo antigo.
Uma dessas características em seu período inicial foi o que Popkin denominou
“ceticismo fideísta”, consistindo no uso de argumentos céticos para problematizar os
limites da razão, abrindo assim caminho para a fé. Essa discussão é particularmente
importante no contexto da Reforma e da Contra-Reforma. Alguns historiadores da filosofia
contestam porém a centralidade que Popkin atribui ao ceticismo nesse contexto
e questionam a própria concepção de um ceticismo fideísta. Recorrendo ao humanista
Guillaume Budé procuro mostrar que este pensador defende um tipo de fideísmo,
atacando o recurso aos clássicos, inclusive ao ceticismo e ao estoicismo. Pode-se ver aí
a influência de pensadores cristãos do Helenismo, os apologistas e representantes da
patrística do período ante-nicêncio, que, relidos no início do período moderno, permitem
um paralelo entre as controvérsias do início do Cristianismo e as do século XVI.
Além disso, os textos dos apologistas e da patrística são também fonte de transmissão
da filosofia cética através de referências a estes filósofos. Proponho assim uma leitura
que favorece a interpretação de Popkin sobre o início do ceticismo moderno.